quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Conhecer o meio ambiente para interagir com ele

Apesar de ecologistas discutirem a mais de meio século os efeitos da ação do homem sobre o planeta, a temática é recente nas salas de aula. Educação socioambiental é o termo mais usado nos últimos tempos para definir o conceito por debater as responsabilidades dos indivíduos e as consequências de suas ações.


Os alunos do 9º ano do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo, começam o segundo semestre letivo sabendo que têm um grande trabalho pela frente. Há oito anos, a escola promove nessa etapa de ensino um estudo do meio sobre questões energéticas coordenado pelos professores de Ciências, Geografia, História e Matemática. A escolha do tema se deve, justamente, ao que à primeira vista parece ser a maior dificuldade para a sua abordagem: a complexidade. "A energia é um assunto que pede a articulação de diversas áreas do conhecimento. Com isso, acreditamos que aumenta o potencial de aprendizagem", explica o coordenador pedagógico do Ensino Fundamental, Eduardo Campos.

O trabalho dos alunos é dividido em três fases. O "antes" se dá quando os professores de cada disciplina trabalham em sala de aula com os conteúdos específicos de sua área, preparam e sensibilizam os alunos para o tema e problematizam e planejam o que eles vão encontrar no trabalho de campo. O "durante" prevê a saída a campo com a visita a uma usina nuclear, a uma hidrelétrica e à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que também produz energia com carvão vegetal. A etapa prevê ainda a entrevista com moradores dos arredores desses empreendimentos para entender como se dá a interação entre a população e a produtora de energia. Segundo Campos, o quesito socioambiental do projeto é o que mais sensibiliza os alunos. Na volta à escola, é a hora do "depois". Todos se reúnem e sistematizam as informações coletadas, tiram conclusões e apresentam os trabalhos. "Com esse projeto, tratamos da formação de conceitos em profundidade ao mesmo tempo em que buscamos mostrar aos estudantes um cenário mais amplo. Assim, estimulamos todos à reflexão para que sejam capazes de analisar e propor alternativas concretas para questões da área no futuro", explica Campos.

Iniciativas como a do colégio paulistano estão de acordo com a abordagem atual dada à Educação socioambiental. A energia é apenas uma das portas de entrada para a questão, juntamente com água, clima, consumo e sustentabilidade (todos tratados nesta edição especial). "O conceito surgiu nos anos 1960 com uma visão preservacionista, mas evoluiu para algo mais amplo, que está sendo chamado de socioambiental por envolver toda a relação da sociedade com o meio ambiente", explica Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do prêmio Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.

Para a pedagoga Silvia Lamanna, superintendente-executiva do Instituto Verdescola, em São Paulo, a ideia de Educação Ambiental está muito desgastada. "Todo mundo diz que faz: desde quem distribui mudas de árvore até quem promove oficinas sobre o tema. Mas isso está errado", afirma. "A tônica do momento hoje é a Educação socioambiental, que insere o indivíduo na ação." Para realizar um bom trabalho nessa área, Silvia destaca alguns pontos importantes: o primeiro é tratar a temática de forma contextualizada, sem usar, por exemplo, um urso-polar para tratar do aquecimento global. Além disso, é essencial contar com profissionais capacitados à frente da atividade para envolver os aprendizes com o tema e, em seguida, trabalhar os conceitos. Como essa abordagem é recente, de acordo com ela, os professores que não receberam capacitação buscam informações nos meios de comunicação, como a TV. Assim, acabam ensinando o tema pelo lado negativo, citando, por exemplo, os riscos de inundação em ilhas como um efeito do aumento da temperatura da Terra. "O melhor é escolher temas que permitam ao aluno interagir, se envolver e formar bons conceitos", diz Silvia. Sueli Furlan faz eco ao debate. "O melhor critério é a legitimidade", diz. "O professor não tem de trabalhar em sala algo discutido em termos mundiais e que esteja nos jornais, mas aquilo que possa fazer uma diferença mais visível na vida dos estudantes e da comunidade em que vivem."

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