Apesar de ecologistas discutirem a mais de meio século os efeitos da
ação do homem sobre o planeta, a temática é recente nas salas de aula.
Educação socioambiental é o termo mais usado nos últimos tempos para
definir o conceito por debater as responsabilidades dos indivíduos e as
consequências de suas ações.
Os alunos do 9º ano do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo,
começam o segundo semestre letivo sabendo que têm um grande trabalho
pela frente. Há oito anos, a escola promove nessa etapa de ensino um
estudo do meio sobre questões energéticas coordenado pelos professores
de Ciências, Geografia, História e Matemática. A escolha do tema se
deve, justamente, ao que à primeira vista parece ser a maior dificuldade
para a sua abordagem: a complexidade. "A energia é um assunto que pede a
articulação de diversas áreas do conhecimento. Com isso, acreditamos
que aumenta o potencial de aprendizagem", explica o coordenador
pedagógico do Ensino Fundamental, Eduardo Campos.
O
trabalho dos alunos é dividido em três fases. O "antes" se dá quando os
professores de cada disciplina trabalham em sala de aula com os
conteúdos específicos de sua área, preparam e sensibilizam os alunos
para o tema e problematizam e planejam o que eles vão encontrar no
trabalho de campo. O "durante" prevê a saída a campo com a visita a uma
usina nuclear, a uma hidrelétrica e à Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN), que também produz energia com carvão vegetal. A etapa prevê ainda
a entrevista com moradores dos arredores desses empreendimentos para
entender como se dá a interação entre a população e a produtora de
energia. Segundo Campos, o quesito socioambiental do projeto é o que
mais sensibiliza os alunos. Na volta à escola, é a hora do "depois".
Todos se reúnem e sistematizam as informações coletadas, tiram
conclusões e apresentam os trabalhos. "Com esse projeto, tratamos da
formação de conceitos em profundidade ao mesmo tempo em que buscamos
mostrar aos estudantes um cenário mais amplo. Assim, estimulamos todos à
reflexão para que sejam capazes de analisar e propor alternativas
concretas para questões da área no futuro", explica Campos.
Iniciativas
como a do colégio paulistano estão de acordo com a abordagem atual dada
à Educação socioambiental. A energia é apenas uma das portas de entrada
para a questão, juntamente com água, clima, consumo e sustentabilidade
(todos tratados nesta edição especial). "O conceito surgiu nos anos 1960
com uma visão preservacionista, mas evoluiu para algo mais amplo, que
está sendo chamado de socioambiental por envolver toda a relação da
sociedade com o meio ambiente", explica Sueli Furlan, docente da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo (USP) e selecionadora do prêmio Prêmio Victor Civita - Educador
Nota 10.
Para a pedagoga Silvia Lamanna,
superintendente-executiva do Instituto Verdescola, em São Paulo, a ideia
de Educação Ambiental está muito desgastada. "Todo mundo diz que faz:
desde quem distribui mudas de árvore até quem promove oficinas sobre o
tema. Mas isso está errado", afirma. "A tônica do momento hoje é a
Educação socioambiental, que insere o indivíduo na ação." Para realizar
um bom trabalho nessa área, Silvia destaca alguns pontos importantes: o
primeiro é tratar a temática de forma contextualizada, sem usar, por
exemplo, um urso-polar para tratar do aquecimento global. Além disso, é
essencial contar com profissionais capacitados à frente da atividade
para envolver os aprendizes com o tema e, em seguida, trabalhar os
conceitos. Como essa abordagem é recente, de acordo com ela, os
professores que não receberam capacitação buscam informações nos meios
de comunicação, como a TV. Assim, acabam ensinando o tema pelo lado
negativo, citando, por exemplo, os riscos de inundação em ilhas como um
efeito do aumento da temperatura da Terra. "O melhor é escolher temas
que permitam ao aluno interagir, se envolver e formar bons conceitos",
diz Silvia. Sueli Furlan faz eco ao debate. "O melhor critério é a
legitimidade", diz. "O professor não tem de trabalhar em sala algo
discutido em termos mundiais e que esteja nos jornais, mas aquilo que
possa fazer uma diferença mais visível na vida dos estudantes e da
comunidade em que vivem."
Nenhum comentário:
Postar um comentário